sábado, 24 de janeiro de 2009

George Daniels, MBE – Parte 1

Infância difícil

     Dr. George Daniels nasceu em 1926, num bairro pobre de Londres, Inglaterra. Primeiro dos onze filhos da união de seus pais (sendo que seu pai já possuía dois filhos de um casamento anterior), desde muito cedo, aos 14 anos, tornou-se o responsável pelo sustento de seu lar, visto que seu pai, um carpinteiro, certa conta, aos 49 anos, simplesmente recusou-se a trabalhar e sua mãe vivia para cuidar das crianças.

     Os membros da família Daniels jamais nutriram qualquer afetividade uns pelos outros – decorrência da criação violenta de seu pai e comportamento psicótico de sua mãe. Em sua autobiografia, Daniels relata que após sair de casa, aos 18 anos, só falava com alguma freqüência com uma tia já falecida, irmã de seu pai; jamais mencionando seus pais, irmãos, tios ou avós.

     Tal criação explica o jeito turrão e aparentemente grosseiro característico de Daniels, bem como também sua teimosia e perseverança, que, como veremos mais a frente, foram marcantes na vida do grande mestre, especialmente quando este tentou introduzir o escapamento co-axial para os suíços.

     Seu primeiro contato com os relógios ocorreu logo na infância, aos cinco anos, quando por um motivo qualquer um relógio de bolso do tipo Roskopf foi parar na sua casa. O relógio estava quebrado, mesmo assim foi suficiente para encantar o pequeno George, que ficou fascinado pelas minúsculas pecinhas e pela tridimensionalidade com que eram dispostas.
     Daniels conta que após este episódio, ora ou outra ele desmontava escondido – certamente sob o risco de tomar uns bons safanões – o único despertador da família, só para vê-lo funcionar.

     Também aos cinco anos, George Daniels foi matriculado na escola. Lá, era muito querido pelos professores, pois já sabia ler (aprendeu sozinho, acompanhando os estudos de uma meia-irmã dois anos mais velha) e desenhava desmedidamente bem para sua idade.
     A escola era um refúgio de seu lar, onde Daniels aproveitava o tempo livre para ler sobre tudo de relojoaria que lhe caia às mãos, especialmente sobre os grandes relojoeiros do passado: Harrison, Tompion, Graham, Mudge, Arnold, Berthoud, etc., que ele chamava de “meus amigos”.

     Ao longo da adolescência, impedido de trabalhar em relojoarias por causa do baixo salário oferecido nesta área, Daniels praticava o ofício amadoramente em relógios quebrados que comprava por mixaria em feirinhas, e também nas peças a si confiadas por alguns conhecidos, e, claro, no velho despertador da família. Um verdadeiro autodidata!

     Aos 18 anos foi convocado pelo Exército inglês, que naquele momento lutava na Segunda Guerra Mundial. Devidamente treinado apenas quando a Guerra já havia terminado, sua tropa foi enviada ao Oriente Médio para guardar posições.
     Daniels conta que a vida no Exército era mansa, especialmente porque, num de seus momentos de sagacidade, se ofereceu para fazer serviços burocráticos como datilografia, arquivo, etc. Isto lhe rendeu contatos com diversos soldados, das mais variadas patentes, e bastante tempo livre, que investia desmontando e manutenindo relógios, câmeras e máquinas de escrever de toda a corporação, o que lhe rendia um pé de meia, além de – o mais importante – conhecimento e experiência.
     Foi neste momento que George Daniels teve certeza do que queria fazer da vida: relojoaria!

     Dispensado do Exército e retornando a Londres, livre da família e, conseqüentemente de quaisquer compromissos financeiros que não para consigo mesmo, e ainda com um dinheirinho no bolso, Daniels arrumou um emprego como assistente de relojoeiro e, também, passou a freqüentar um curso noturno de relojoaria – dos mais inúteis segundo o mesmo, pois ensinavam muita teoria e pouca prática (mais pra frente admitiria que as aulas não foram tão inúteis assim).
     Ao longo do curso, de três anos, Daniels foi pulando de emprego em emprego até formar uma sociedade com um colega, em que os dois reparavam relógios para lojas e joalherias, como terceirizados.

     Terminadas as aulas, e já com bastante experiência e traquejo, e também se sentindo prejudicado pelo colega, que não lhe acompanhava em ritmo e qualidade do serviço, além de “beber” todo o lucro da sociedade, Daniels montou sua própria oficina. Agora estaria novamente livre para alcançar seus objetivos!

     Apenas como demonstração do que viria pelo futuro: como trabalho de graduação do curso, George Daniels deu um jeito de arrumar um “kit” de um cronômetro marítimo (isto é, um cronômetro inteiramente desmontado, como que um ébauche) pelas mãos de Franck Mercer, dono da reputada casa de cronômetros Thomas Mercer, e o montou e ajustou sozinho.
     Seus professores simplesmente não aceitaram o trabalho, sob a alegação de que obviamente Daniels estaria trapaceando e utilizando-se do auxílio de um profissional muito habilidoso.
     Ele precisou provar, por meio de testemunhos de colegas e de um assistente de classe, que havia feito todo o trabalho sozinho!

George Daniels, MBE - Introdução
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