Mestre Relojoeiro
A escolha de Cecil Clutton como possuidor de seu primeiro relógio foi bastante acertada para George Daniels, que logo ganhou ainda mais fama. Clutton carregou por meses o relógio e fazia questão de mostrá-lo para todos que pudessem se interessar. Logo choveu dezenas de pedidos e propostas de compra na oficina de Daniels, porém ele teve de recusar todas.
Daniels manteve-se firme em seu propósito de fabricar artesanalmente e sozinho seus relógios Daniels London, os quais ele fazia na proporção de um por ano. Em razão da grande demanda, Daniels pôde escolher com cautela quem teria o privilégio de portar suas pequenas obras de arte.
Primeiro veio uma série de seis relógios muito parecidos com aquele primeiro, porém a semelhança terminava na aparência. Cada relógio desta série continha alguma modificação, algum melhoramento, às vezes ínfimo – questão de graus no ângulo de uma levée.
Estes relógios, bem como alguns outros que viriam na seqüência, todos com escapamento de cronômetro (pivoted e spring detent) serviram como campo de provas para um projeto que já martelava na cabeça do agora Mestre Relojoeiro George Daniels havia um bom tempo: um novo e original escapamento.
A oportunidade de pôr este projeto em prática veio quando, em 1974, um dos seus clientes o questionou quanto a comissão de um relógio diferente para seu museu privado. Sempre reticente quanto a encomendas, Daniels aceitou fazer o relógio, pois o prospecto comprador lhe garantiria a liberdade financeira e de tempo necessárias para a empreitada.
Parcialmente inspirado no mal sucedido Echappement Naturel de Breguet, Daniels criou o que denominaria Daniels Independent Double-Wheel Escapement, que, resumidamente, é a junção de dois trens de engrenagem independentes, cada qual com sua respectiva roda de escape, unidos em apenas um balanço. A liberação das rodas de escape e os impulsos no oscilador se dão tal qual num escapamento detent.
Com esta disposição, Daniels alcançou o que ele acreditava ser o escapamento ideal, que superaria as deficiências tanto dos precisos e frágeis escapamentos de cronômetro quanto dos robustos, porém instáveis escapamentos de âncora, com a vantagem de jamais precisar de lubrificação.
Tal relógio, quando pronto – os testes com o novo escapamento duraram dois anos e meio – mostrou uma precisão realmente impressionante, digno dos melhores exemplos dos observatórios suíços, tanto foi que, enviado ao Royal Observatory em Greenwich, obteve uma variação média de 0,2 segundos por dia!
Dois protótipos deste escapamento foram produzidos, um entregue a Seth G. Atwood, proprietário do Time Museum de Rockford, Illinois, nos Estados Unidos, que o encomendara, e o outro – o protótipo original e mais simples – seria adquirido novamente por Cecil Clutton. O par seria denominado “Os Relógios dos Viajantes do Espaço” (“The Space Travellers Watches”).
Clutton ficou tão impressionado com o relógio que não descansou enquanto não conseguiu que Daniels fosse premiado com a Medalha de Ouro de Tompion, a mais alta honraria concedida pela Worshipful Company of Clockmakers, que há mais de 30 anos não era premiada a alguém (Daniels foi apenas o quinto premiado com a Medalha, em 1980).
O desempenho do escapamento era muito bom, porém Daniels não ficou inteiramente satisfeito com seu design. Sua intenção era contribuir com algo significativo para o avanço da relojoaria mecânica, mas como seu escapamento, em virtude do tamanho avantajado, só serviria em relógios de bolso, seria tido como um produto de nicho (tal qual o mecanismo de carga “perpétua” dos relógios Atmos da Jaeger-LeCoultre, que só cabem em relógios de mesa). Daniels precisava encontrar uma forma de encaixar seu escapamento nos pequenos e finos relógios de pulso.
George Daniels, MBE - Introdução
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