sábado, 24 de janeiro de 2009

George Daniels, MBE – Parte 4

Mestre Relojoeiro

     A escolha de Cecil Clutton como possuidor de seu primeiro relógio foi bastante acertada para George Daniels, que logo ganhou ainda mais fama. Clutton carregou por meses o relógio e fazia questão de mostrá-lo para todos que pudessem se interessar. Logo choveu dezenas de pedidos e propostas de compra na oficina de Daniels, porém ele teve de recusar todas.

     Daniels manteve-se firme em seu propósito de fabricar artesanalmente e sozinho seus relógios Daniels London, os quais ele fazia na proporção de um por ano. Em razão da grande demanda, Daniels pôde escolher com cautela quem teria o privilégio de portar suas pequenas obras de arte.

     Primeiro veio uma série de seis relógios muito parecidos com aquele primeiro, porém a semelhança terminava na aparência. Cada relógio desta série continha alguma modificação, algum melhoramento, às vezes ínfimo – questão de graus no ângulo de uma levée.
     Estes relógios, bem como alguns outros que viriam na seqüência, todos com escapamento de cronômetro (pivoted e spring detent) serviram como campo de provas para um projeto que já martelava na cabeça do agora Mestre Relojoeiro George Daniels havia um bom tempo: um novo e original escapamento.
     A oportunidade de pôr este projeto em prática veio quando, em 1974, um dos seus clientes o questionou quanto a comissão de um relógio diferente para seu museu privado. Sempre reticente quanto a encomendas, Daniels aceitou fazer o relógio, pois o prospecto comprador lhe garantiria a liberdade financeira e de tempo necessárias para a empreitada.
     Parcialmente inspirado no mal sucedido Echappement Naturel de Breguet, Daniels criou o que denominaria Daniels Independent Double-Wheel Escapement, que, resumidamente, é a junção de dois trens de engrenagem independentes, cada qual com sua respectiva roda de escape, unidos em apenas um balanço. A liberação das rodas de escape e os impulsos no oscilador se dão tal qual num escapamento detent.

     Com esta disposição, Daniels alcançou o que ele acreditava ser o escapamento ideal, que superaria as deficiências tanto dos precisos e frágeis escapamentos de cronômetro quanto dos robustos, porém instáveis escapamentos de âncora, com a vantagem de jamais precisar de lubrificação.
     Tal relógio, quando pronto – os testes com o novo escapamento duraram dois anos e meio – mostrou uma precisão realmente impressionante, digno dos melhores exemplos dos observatórios suíços, tanto foi que, enviado ao Royal Observatory em Greenwich, obteve uma variação média de 0,2 segundos por dia!
O Relógio do Viajante do Espaço     Dois protótipos deste escapamento foram produzidos, um entregue a Seth G. Atwood, proprietário do Time Museum de Rockford, Illinois, nos Estados Unidos, que o encomendara, e o outro – o protótipo original e mais simples – seria adquirido novamente por Cecil Clutton. O par seria denominado “Os Relógios dos Viajantes do Espaço” (“The Space Travellers Watches”).Movimento d'O Relógio do Viajante do Espaço
     Clutton ficou tão impressionado com o relógio que não descansou enquanto não conseguiu que Daniels fosse premiado com a Medalha de Ouro de Tompion, a mais alta honraria concedida pela Worshipful Company of Clockmakers, que há mais de 30 anos não era premiada a alguém (Daniels foi apenas o quinto premiado com a Medalha, em 1980).

Daniels recebendo a Medalha Thompion

     O desempenho do escapamento era muito bom, porém Daniels não ficou inteiramente satisfeito com seu design. Sua intenção era contribuir com algo significativo para o avanço da relojoaria mecânica, mas como seu escapamento, em virtude do tamanho avantajado, só serviria em relógios de bolso, seria tido como um produto de nicho (tal qual o mecanismo de carga “perpétua” dos relógios Atmos da Jaeger-LeCoultre, que só cabem em relógios de mesa). Daniels precisava encontrar uma forma de encaixar seu escapamento nos pequenos e finos relógios de pulso.

George Daniels, MBE - Introdução
George Daniels, MBE - Parte 1
George Daniels, MBE - Parte 2
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George Daniels, MBE - Parte 5

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