Por Igor de Lacerda e Schütz,
Julho de 2009
No início da década de 60 do século passado, o mundo observou uma revolução na forma de se medir o tempo em dispositivos pessoais: pela primeira vez foi disponibilizado ao público um relógio que definitivamente, após mais de 300 anos, abandonara o balanço e mola como elementos reguladores.
A empresa responsável pelo feito: Bulova. Seu inventor: Max Hetzel. O relógio: Accutron.
Era uma vez...
As propriedades ressonadoras do diapasão são conhecidas pela humanidade há séculos. A qualidade desde instrumento como órgão regulador para um instrumento de medição de tempo foi reconhecida pela primeira vez por Louis François Clément Breguet (1804-1883), neto do famoso relojoeiro Abraham-Louis Breguet, que patenteou um mecanismo com diapasão em 26 de outubro de 1866. Trata-se de um relógio de mesa elétrico com um diapasão de 25 cm vibrando a 100 Hz. Em uma das suas extremidades estava ligada uma espécie de âncora, como as de um relógio suíço, que liberava a roda de escape.
<- Clique no relógio para ver o mecanismo em funcionamento.
Um relógio foi produzido com este ressonador, que hoje se encontra exposto no Musée International d’Horlogerie (MIH), porém não deve ter tido muito sucesso, visto que sua utilização parou por aí.
Em 1952, um engenheiro eletrônico de 31 anos, suíço de Basel, chamado Max Hetzel, empregado no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Bulova Watch Company em Bienne, foi incumbido diretamente pelo presidente da empresa a desenvolver um relógio elétrico que fosse mais preciso que os da concorrência.
Na época, algumas empresas já haviam lançado no mercado alguns relógios elétricos, mas estes, apesar de movidos a bateria, ainda utilizavam o velho sistema de roda de balanço e mola, não obtendo assim qualquer vantagem significativa em termos de precisão frente aos relógios mecânicos.
Hetzel ignorou este modelo de funcionamento e previu que o futuro da relojoaria estaria ligado ao recentemente descoberto transistor. A partir daí começou seus estudos.
No ano seguinte, tendo recebido finalmente um transistor de baixa voltagem, modelo Raytheon CK 722, Hetzel deu início ao desenvolvimento de seu primeiro protótipo, que não apenas seria um relógio elétrico, mas também um relógio eletrônico; o primeiro do mundo! Recebeu a patente suíça nº 312290, de 19 de junho de 1953.
Provavelmente por não ter formação como relojoeiro, em seu protótipo Max Hetzel deu uma excelente demonstração de pensamento lateral: ao invés de confiar em molas e engrenagens, optou por um diapasão como órgão regulador para seu relógio.
Pronto em 1955, o protótipo era um pequeno movimento feito à mão, embalado numa caixa de madeira. Possuía freqüência de 200 Hz, era alimentado por uma bateria de 1,5 V e utilizava um sistema similar à versão final do Accutron: um pequeno pino, ligado a um dos braços do diapasão, empurrava a cada ciclo uma engrenagem com 120 dentes minúsculos, que por sua vez movimentava os outros componentes.
Foram construídas oito cópias deste protótipo.
Muitos dentro da Bulova não acreditavam no modelo de funcionamento, mas o presidente da companhia, Arde Bulova, foi um entusiasta da tecnologia, incentivando e promovendo Hetzel, até que este foi parar na sede de Nova Iorque, como Físico Chefe da empresa.
Lá, em 1959, Hetzel e seu colega William O. Bennett finalmente terminaram o desenvolvimento do Accutron, no que culminaria no calibre Accutron 214.
Este movimento, com 12,5 linhas (28,75 mm) e 5,5 mm, difere dos primeiros protótipos na alimentação, que utiliza uma bateria de mercúrio de 1,35 V, e na freqüência de 300 Hz, o que acarretou no uso de uma pequena engrenagem motora com 300 dentes incrivelmente minúsculos: um centésimo de milímetro cada! Realmente, o Accutron 214 foi uma maravilha da miniaturização em sua época.
Anunciado em 1960 pelo então presidente da Bulova Watch Co. – o ex-general e herói da Segunda Guerra Omar N. Bradley – e vendido ao público em 25 de outubro de 1961, o Bulova Accutron foi um sucesso de vendas em todo mundo, especialmente no mercado americano, sempre orgulhoso de seus próprios produtos.
A precisão do Accutron – variação máxima de um minuto ao mês (dois segundos ao dia) – era destacada orgulhosamente e garantida por escrito pela Bulova. Precisão esta que deixava os melhores relógios mecânicos do mundo comendo poeira, e tudo a um preço que cabia no orçamento de um trabalhador de classe média!
A disparidade entre o desempenho do Accutron frente aos tradicionais relógios mecânicos fez com que muitas marcas, suíças e japonesas, licenciassem o mecanismo diapasão para uso em suas linhas. A mola e o balanço simplesmente não podiam acompanhar a precisão do diapasão.
O lançamento do Bulova Accutron marcou o início da revolução da relojoaria pessoal, que culminou no advento da máquina quartzo.
O zumbido do diapasão
O Accutron na prática
Modelos para todos os gostos
A investida suíça
Inevitável fenecimento
Fatos e curiosidades interessantes
Bibliografia
Um comentário:
Ótimo artigo. Muito Bom!!!!
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